segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ela podia sentir o cheiro da loucura, escutar os passos dela, vê-la no reflexo das vitrinis das lojas, sentir o hálito quente no pescoço e ver as pegadas, sujas de lama, atrás de si. Faltava tão pouco que a mente, já contagiada, não conseguia parar de pensar, mesmo com todos os esforços conscientes.
Fugia da loucura, é claro que fugia. Quem quer se entregar ao vento cortante da madrugada e deixar ser dominado, tão facilmente, pelo inconsciente? Quem quer beber uma xícara de café, pela manhã, sem sentir o gosto do líquido? Quem quer esquecer que existe fome e que se deve comer no mínimo três vezes por dia?
A loucura quer dizer a ausência de lucidez, mas nem por isso pode ser considerada boa. Só se sabe disso quando é na sua porta que ela bate, naquelas noites chuvosas em que o guarda-chuva pode virar do avesso, quando você está com o seu chá quente na mão, de roupão, se preparando para dormir tranquilamente.

-Saiba que agora as portas da minha casa têm tranca.