domingo, 2 de janeiro de 2011

"(...) a morte apaga os traços de espuma do mar na praia." Lispector


A ponte balançou com o vento, literalmente. Não como nos posts. Não como nos pesadelos em dia de calor. Eu estava lá. Eu estive lá por noites e a água do rio, que caía no mar, olhava pra mim. Pouco a pouco os meus olhos refletiam o brilho que emanava dele e a minha alma fazia o mesmo barulho que as ondas se quebrando na praia.
As madeiras velhas da ponte não faziam barulho e eu sabia que isso era pior do que se fizessem. As piores ações não são acompanhadas de sons. E eu estava me equilibrando no meio dela, os pés sujos de areia, a boca com mais sede de cerveja, o corte no braço e o vento que aumentava os nós nos meus fios de cabelos tingidos.
Não tenho medo do mar. Não tenho medo da ponte que balança com o vento. Não tenho medo do medo. A gente sempre acha, do alto de um prédio, olhando pra baixo, que se fosse em um momento melancólico nos atiraríamos de lá. Sempre fui muito viciada em situações como essa. E o desejo do perigo não é consciente. Me atirei nas noites pra vomitar as manhãs. Não sei por que, não sei por que não quis pular da ponte. Talvez o balanço dela me deixasse em paz. Poderia me embalar pra dormir. Poderia cantar uma música ou ler o trecho de um livro. Mas, ainda assim, podia me matar.

A morte tem gosto de mar. Mas o mar é vida. E todos nós viemos da mesma fonte. E voltaremos pra ela.