quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ela pensava o tempo todo em suicídio. O vazio de sua vida tinha tomado tamanha dimensão que até seus olhos eram um poço vazio de nada. O ar era vazio, as ruas eram vazias, os sentimentos igualmente vazios. Não chorava.
Nos finais de semana era sempre a mesma rotina: bebia até que seu corpo ficasse mole o bastante e contava seus segredos para as pessoas só para no outro dia se arrepender. Precisava se arrepender de alguma coisa para as ideias de suicídio não passarem da mente. Colecionava problemas dos outros, também. Era como uma caixinha onde as pessoas depositavam tudo o que as atormentavam. Aí as pessoas ficavam livres e ela cheia, cheia de vazio. Não tinha como parar. Fumava tantos cigarros que seus dedos ficavam doloridos. Bebia tantas cervejas que quando o sol estava nascendo tinha que se curvar na cadeira e vomitar. Os saltos dos seus sapatos caros sempre se entortavam. Os seus olhos borrados e quase fechados não deixavam passar frase alguma. Tudo o que queria era se livrar do vazio que a perseguia, mas quanto mais tentava se livrar dele, mais ele se tornava algo fixo dentro dela.
Desmaiava quando o sol já estava alto no céu e o relógio marcava 10 horas. Desmaiava de fraqueza, de cansaço, de uma espera que nunca ia se acabar. Desmaiava de esgotamento físico e mental. Desmaiava de uma dor causada pelo vazio.

Era isso. Ela e o vazio, como dois sapatos embarrados e velhos na chuva.

Como isso pode ser egoísmo?