quarta-feira, 2 de junho de 2010

Chorava baixinho porque já não suportava o som do seu próprio murmúrio. Chorava porque doía uma dor sem razão, sem começo, sem um fim. O rosto ficou melado, os lábios secos, as bochechas brancas e geladas. Suas pernas tremiam enquanto a estrada passava pelos seus olhos. Olhava pra cima e procurava a lua, a lua que andava lhe torturando resolvendo se esconder, resolvendo tirar as estrelas do céu. Sua trança foi se desmanchando em uma hora e meia e seus olhos já sem maquilagem refletiam uma insignificância, uma incerteza, uma tristeza que não podia ser descrita. Ia escrevendo no seu bloco sujo e quase despedaçado apenas palavras vagas. Escrevia porque já não sabia o que fazia de si, o que fazia com aqueles sentimentos e com aquele redemoinho de ideias que nunca podiam ser especificadas. E as palavras saíam tortas no papel. E suas mãos geladas de frio pareciam poder quebrar a qualquer momento.
Quando chegou em casa, a luz apagada, o silêncio da rua longa e estreita, aquela escuridão que parecia engoli-la. Ainda uma última lágrima caiu enquanto jogava a cabeça pra trás. E quando engoliu a lágrima abriu os olhos e viu aquelas estrelas todas perdidas e a lua bem no alto, ficando pequena. Quis sorris, quis gritar, quis correr, mas tudo o que seu corpo fez foi andar pra dentro de casa, afastar as cobertas frias e deitar, pensando em talvez morrer no próprio sono.

"a história da melancolia
inclui a todos nós

eu, eu escrevo em folhas sujas
enquanto encaro fixamente as paredes azuis
e o nada." Charles Bukowski