sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma boca em forma de coração e lábios tão bem pintados que é a primeira coisa que alguém nota quando a conhece. Vamos chamá-la de Dolores porque não faço a mínima ideia do seu nome. Não, não a Lolita do meu livro. Até porque essa Dolores deve chegar perto dos 30 e a minha Lô tem apenas 13.

"[...]Morrendo, morrendo, Lolita Haze,
De ódio e de remorso, estou morrendo.
E torno a erguer o meu punho peludo,
E torno a ouvir você chorar.[...]" Vladimir Nabokov

Unhas bem pintadas e a blusa aberta nos ombros deixando escapar a marquinha de biquini. Peculiar, essa é uma boa palavra para defini-la. Voz fina e delicada, mas ela é o tipo de pessoa abusada que se intromete quando os outros falam e vai baixando a voz para se fingir de inocente. Mas não consegue me enganar. Alta, magra e sem peitos. Mas tem charme. Não sei se fuma.
A Dolores parece com a Amélie Poulain e acho que todo mundo percebeu isso porque uma hora alguém arrumou um motivo pra falar do filme. Eu ri.
Ela olhou pra mim uma ou duas vezes, aqueles olhos com um brilho estranho, brilho de quem pensa já no próximo passo sem nem ter dado o anterior direito.

"[...]Meu carro fraqueja, Dolores Haze,
E o último e longo trecho de estrada é o mais duro,
E eu tombarei onde as ervas daninhas apodrecem,
E o resto é corrupção e refulgir de estrelas.[...]" Vladimir Nabokov

Acho que a Dolores sabe escrever, muito bem, aliás. Mas ela não deve saber brincar com as palavras como eu e isso ela deve ter percebido nas duas vezes em que me olhou. Sentiu. Duvido que depois disso se aproxime de mim. Uma pena!