quarta-feira, 14 de setembro de 2016

P.

O que ficou daquilo tudo, eu não sei. E é o não saber que me preocupa. Se soubesse, pelo menos saberia lidar. Pelo menos saberia onde está o rasgo, costurar, esperar pela cicatriz. Se não sei, nada posso fazer a não ser administrar a água que escorre pra dentro, e que vez ou outra afoga o peito.

O que ficou daquilo é uma ferida permanentemente aberta nos olhos, que eu desesperadamente tento esconder. Mas não escondo de mim mesma. E quanto mais tento, mais evidente a ferida se torna.

Saio pra fora e você me magoa pra dentro. Sempre magoou, afinal. E foi tanto que em determinado momento eu, que sempre fui pra fora, acabei indo pra dentro. E agora meu corpo compensa indo pra cada vez mais longe, me perdendo em ruas cinzas com pessoas que não me olham, não me ouvem, não falam comigo.

Me escondi porque já não queria mais saber qual outra parte de mim, e dela, você machucaria.

Me escondi porque precisava estar longe pra compreender. Compreender que não haveria compreensão.

O que ficou daquilo tudo, eu não quero mais saber.