quinta-feira, 28 de julho de 2016

25/11/2015 

A gente vai indo. Escrevo no caderno vermelho quando dá. Leio quase todo dia – alguns dias mais do que em outros. Mas escrevo muito mais fluidamente aqui. Não há esforço em preencher essa página. A caneta não pesa na mão. A letra sai igual e legível sem o menor esforço. 

A gente vai indo. Faço chá à noite, falo com mamãe aos domingos e leio Caio Fernando Abreu no trem, enquanto vou para o trabalho. Penso em café depois do almoço. Almoço pouco. Escrevo textos na mente, textos que nunca param aqui – nem no caderno vermelho. 

A gente vai indo melhor que nunca. Melhor do que sempre. Melhor do que antes. Uma dupla. Um nós. Um sujeito que indica duas pessoas. Um nó. Algo que não se quebra em primeira e segunda pessoa do singular. Algo que não se dissolve. Prefiro ser nós do que ser eu. É solitário ser uma ilha, embora faz-se momentos em que é necessário. Mas são tão raros! E é tão fácil dizer “hoje preciso ser sozinha”. 

A gente vai indo tão bem. Mesmo sem sofá, sem vitrola, sem disco do Chico, sem cortinas na sala, sem panelas na cozinha. Mesmo sem criado mudo. Mesmo sem sapateira, chaleira, cadeira. Mesmo sem dinheiro. A gente vai indo bem com as cervejas do final de semana e com as corridas de segunda, quarta e sexta. A gente vai indo.