quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Diário de personagens

Não vem. Nem em cor. Nem em preto e branco. Nem em retrato. Nem escrito. Acho que ter vestido aquela capa amarela, no final de semana, me deu a possibilidade de ser a personagem criada há alguns anos. E tendo sido ela, achei que poderia ser outras. Que pelo menos se aquilo não vinha, eu podia brincar com a vida e ser o que quisesse.


Por isso que ontem eu acordei e decidi ser bailarina. E sendo, qualquer outro desejo, expectativa ou falta é eliminado do peito. Depois de pensar que seria bailarina, disse. E dizer é o registro absoluto. Não se pode mais voltar atrás depois que as palavras saem da boca. É necessário ser fiel a elas. 

E ser bailarina é quase como ser nada. Acho que serei leve outra vez, ainda que o peso do meu próprio corpo diga o contrário. Serei. Não qualquer coisa. Serei bailarina. E depois de decidir o que seria, achei que devia comprar uma garrafa de vinho para comemorar. Mas bailarinas não bebem, logo me corrigi. E voltei pra casa na ponta dos pés, sóbria, e quase já sendo.