sexta-feira, 4 de julho de 2014

Notes from the couch XXXI

Tô falando sério que não dói. Só quando as unhas estão roídas até o limite. Ou quando descubro que o meu limite é bem maior do que eu pensava. Tô falando sério que não penso. Que não sei. Que não quero saber. Que não quero decidir. Que não quero bater o martelo. Só quero virar, talvez, mais um copo de cerveja no bar do Buk. E, vazio, batê-lo com força na mesa de madeira. 
Mas não falo sério quando digo que tenho alternativas. E não expectativas. Aqui estão elas. Nos olhos. Nos lábios roxos. Nas orelhas. Nos fios embaraçados no cabelo. Estão, inclusive, nas paredes mofadas do quarto. Também está nas paredes mofadas a idealização de um lar novo. Com um armário na cozinha. Com espaço para estender roupas. Para ter uma vitrola. Quem sabe uma televisão e um sofá. Uma banheira. Uma cadeira mais confortável e menos bamba. Com menos cupins e aranhas. Com mais espaço para dançar. Com mais espaço para guardar o violão, a sanfona, a gaita de boca, a sua guitarra, o meu amor, a sua preguiça e as flores que sempre esqueço de comprar. 
Falo sério quando penso em ir. Ou quando penso em ficar. Quando digo que estou velha demais. Que engordei. Que quero correr, que não quero correr, que quero escrever, mas não escrevo. Falo sério quando estou brincando. E estou brincando agora. E estou feliz agora. E estou aliviada. E não estou frustrada. É porque quase não sou.