sábado, 28 de junho de 2014

Notes from the couch XXX

Às vezes eu acho que estamos sempre entrando nesse lugar cada vez mais fundo, talvez sem uma parede que delimite o fim. E que eu quero ficar nesse fundo quentinho, limpinho, sem que ninguém veja, diga ou faça. Às vezes eu acho que a gente faz pouco em tanto tempo. E que às vezes é tanto em pouco tempo. Nunca é na medida certa. Talvez seja por isso que meus olhos estão sempre muito úmidos ou sempre muito secos. E que eu corro quando preciso caminhar e fujo quando preciso aparecer. Às vezes nunca é às vezes e o hoje se transforma em um amanhã inexistente. Os pássaros não pousam na janela, mas eu penso em fazer instrumentos, quadros, livros, camisetas, textos. O verbo é esse. E até quando eu não faço eu estou fazendo alguma coisa. Às vezes eu não acho e tenho o direito de não achar. Tenho todos os direitos de qualquer coisa, até daquilo que dizem "não". Não digo não, embora escreva. Não sinto o não. Sou toda aceitação, embora meu coração se feche na maioria das vezes. É assim que ele respira. Mas não me preocupo se ele se fecha ou se abre. Talvez seja como uma flor. Ele funciona conforme o tempo. E conforme a quantidade de mãos que tentam arrancar ele da terra. Do peito. De mim.