segunda-feira, 3 de março de 2014

Notes from the couch XXVII

Aqui é você. E já não somos nós nesse reflexo das luzes da cidade na minha janela que separa os dois mundos.

Aqui é você e a sua vontade de penetrar pelo vidro fino. E já não é ela quem me sorri, quem me fala, quem me olha.

Olho para dentro e não consigo voltar os olhos para fora. Estou sempre caindo mais fundo. Não tenho em que me agarrar. Olho para dentro e vejo a escuridão. Fecho os olhos e caio, caio cada vez mais para dentro do vazio. Ele me esquenta. É como um útero. E já não é mais você porque você não pode sentir essas ondas de calor. Porque você nunca poderá saber como é se sentir dentro de mim.

Aqui é mar. Outras vezes é falta de ar. Mas não me afogo nem me sufoco. Nem mato ela. Tem olhos tão gentis e nariz fino e mãos macias. É porque já não é mais ela quem sorri e pede licença quando bate na porta. Não me importa a cor dos olhos. Não me importa se esse olhar já não tem mais cor. Não me importa se chove no meio do sol. Tampouco me importa se um dia irei me importar.

Aqui é e não é.