quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sobre Dom Pedro

Eles bebem no começo da tarde. E no começo da noite. E no começo da madrugada. Não há nada que se possa fazer em relação a isso. Dizem que bebem para amenizar o calor, mas o álcool no sangue faz tudo ficar ainda mais quente. Gotículas de suor se formam nos narizes. O dela é sardento demais. O dele é moreno. Colecionam calor nos rostos, nos corpos, mas nunca nas mentes. As mentes ficam livres da sofreguidão do verão. Nuas, se privilegiam das brisas proporcionadas pela cerveja gelada. E logo as mentes ficam geladas também.
Bebem e tocam, os dois. Como se música fosse algo muito simples de se fazer. E é. Eles fazem com que seja. Ele arranha as cordas do violão. Ela improvisa as batidas na perna branca. Ele deixa surgir uma letra na voz rouca. Ela entra com a gaita no momento certo. E nem sabe direito que notas toca, mas toca.
Não importa se é a primeira ou a última cerveja. As canções nascem no quarto. Nunca saem pela janela aberta. Não sobrevivem no mundo. Sobrevivem e vivem apenas dentro da peça úmida e quente, amenizada pelo ventilador barato, pela geladeira constantemente aberta e pelas toalhas molhadas estendidas em cima da cama para afastar o calor.

Oh, as canções. Notas e melodias e sentimentos em cinco minutos. Minutos que nunca terminam.