quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Querida Natasha,

estou rebelde de novo. Sei que esta não é a palavra mais apropriada, mas não sei se a palavra apropriada existe. Olho para o mundo e ele me olha de volta com olhos entorpecidos de fúria, de violência. Sinto o cheiro de veneno a cada esquina. Espero (não com vontade, mas com certeza) que algum tentáculo impeça meus passos, me derrube na calçada, rague minha roupa amassada. Espero alguma gargalhada alta, no meio da noite, vindo de boca alguma. Quebramos qualquer enlace - eu e o mundo - que tivemos durante esse tempo. Não consigo mais me enganar. Antes eu fazia isso muito bem. Usando as tuas palavras, me fiz "pato". Mas já não consigo mais me fazer assim. O bico pesa. Os pés vacilam. Não consigo nadar com eles.
Pela primeira vez em muito tempo, não sei o que vai ser de mim. E também, pela primeira vez, me preocupo com isto. Sinto que estou prestes a quebrar qualquer coisa que não deve ser quebrada. Às vezes sinto que já quebrei, que não tem mais volta, que estou fadada a estar fora do mundo. Não que isto seja ruim. Mas é ruim saber que quem está à mercê do mundo engole e digere esta condição. Dói mais. 
É mais fácil fingir ser pato. Ó, por Deus, é, sim. Mas enclausurada neste quarto quente, nesta casa apertada, já não consigo mais me convencer a fingir. O que faço, te pergunto, se minhas mãos anseiam por isto que está para ser destruído - o que meu coração não irá aguentar?

Com saudade e uma angústia que não me deixa dormir,
Thaís