sábado, 8 de junho de 2013

Notes from the couch IX



Estive no útero do caos. O espaço era tão comprimido que meu peito ficou doendo quando, finalmente, saí dele. Na hora não percebi. Isto é, na hora em que permaneci dentro. Tudo é tão denso e a loucura é tão compenetrada que o consciente se dissolve. A ilegibilidade do mundo é ainda mais frisada dentro do útero. Lá tem cheiro de maconha, de vinho barato, de noite fria. Lá não tem cheiro de vento. Não há como respirar ou falar. Só o caos fala. E fala tanto que nem percebe que grita.
Tem maldade no caos. Tanta maldade que embebeda. E à sombra da luz amarela, escura demais, a maldade parece ainda mais indigesta. Sufoca mais do que o espaço comprimido do útero. Deixa os olhos à mercê da discrepância dos dias. E exclui qualquer espécie de inocência e empatia.
Não senti frio dentro do útero. Nem sono. Nem consegui ficar preocupada com a hora que acordaria no dia seguinte. O caos sugou todos os meus sentidos. Deixou a casaca de mim, uma casca incompatível com a realidade. Fez o seu trabalho em quatro horas e me expeliu.

Saí de dentro do caos, mas uma crosta dele nasce dentro de mim.