domingo, 5 de maio de 2013

Notes from the couch VIII

Deixa eu falar, embora eu não tenha nada para dizer. A realidade me escapa. Não pelos dedos, como antes, mas como algo que eu nem sequer pude ter nas mãos, de tão rápido que esteve nos meus dias.
Vou construir um forte, sabe? Nem sei se vou ter acesso a ele. Mas vou tentar escapulir. Tapar os olhos e fechar os ouvidos. Fingir que a realidade ainda grita dentro de mim. Que vive. Qualquer coisa como ouvir a sua respiração. Ou criar esse som. Dançar com ele, mesmo que ele sequer exista.
Tenho visto a existência. Ela ali, eu aqui. Nossos olhos se encarando no espelho. Eu tentando trocar de lugar. Usando o meu silêncio para uma proposta descabida. Tento de tudo, embora o falar tenha sido a minha principal dificuldade. E abano para uma realidade que se vai, mesmo sem chuva, mesmo quando nada alaga em Porto Alegre.
Quero viver. E tenho vivido. Ainda que as horas entrelacem o caos em uma teia de ruídos. E o pó se acumule pelas paredes, pelos livros, pelas xícaras. Vivo, sim. E sei que nada posso fazer com a realidade. A não ser espiá-la. E ver que está cada dia mais longe de mim. E que a loucura sussurra em meu ouvido, enquanto estou no ônibus. Ninguém fala, além dela. Sacudo a cabeça e minto que não é ela. Mas sei que é. Não entendo o que diz, mas conversa comigo.

Vou me despir. E dormir fora da realidade. Não sei como se chama o que existe além dela, mas estou me adaptando. Caminho no vazio. E sorrio diante do nascer de uma noite de domingo.