sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ela sabe que não se encaixa. É tão nova e sempre soube. Os outros é que não sabem que ela sabe. Que sente. Que a cada sorriso contido, a cada olhar arregalado, a cada silêncio e passo arrastado na saída do colégio - contrastando com as crianças barulhentas - tenta entender, ainda que inconsciente. Não é preciso que lhe digam.
Talvez um dia falem. Enquanto isso, ela quer adivinhar, com uma curiosidade apática, nula, o que se passa. Pisa na vida como quem pisa em um chão movediço. Toma todo o cuidado possível. Só ri alto quando o êxtase queima-lhe a língua. Ou quando o desespero é apertado demais para caber no peito.
Não tem nome o que a aflige, por mais que, sem que ela escute, todos usem apenas um: sete letras, quatro vogais, uma palavra cuspida no tempo. Encontram eufemismos para fugir do rótulo. Ela foge de tudo, quando, autoritária, pede que se calem. Hoje não quer ouvir mais nada. Quem sabe amanhã possa acreditar em eufemismos.