sábado, 8 de dezembro de 2012

O último dia 6

Existe sempre uma promessa que nasce com a noite e morre com a manhã, que se fantasia de alívio e dança pelas ruas tão facilmente, como se não pesasse, como se seus pés não doessem, como se fosse fácil fechar os olhos e deixar o vento levar.
Outra vez sobrou a falta e faltou a fala. Outra vez o jogo de palavras foi engolido com o calor de dezembro, com a última noite de seis meses que dá lugar para outros seis. Ainda que não tenham começado, já estão carregados de esperança, mesmo que o consciente diga que não. Muda o cenário e as pessoas. As músicas antigas dão lugar ao MPB. Muda a visão da janela e a janela. Os livros novos dão lugar aos velhos. Mudam até as certezas. Mas continua ali, essa promessa que nasce, que morre, que sucumbe ao roteiro.
E de vestido vermelho, a menina segue declamando os seus pensamentos, uma declamação que sussurra qualquer coisa, menos palavras. Uma declamação que não nasce na ponta dos dedos, que não fica no papel, mas que não sai na mente. Gostaria de arrancar um por um os corações pretos do vestido, mas suas mãos estão ocupadas fazendo uma coreografia com o vento, apesar de o vento não existir.