terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Escrevi cinco páginas da agenda amarela que você me deu. Está no dia 19 de novembro. E eu sei, mesmo que você sempre se perca no tempo, que estamos em dezembro. Bebi algumas cervejas e você riu da minha voz mole ao telefone. Procuro os bichos nas paredes brancas do meu apartamento. E se novamente não dormir, colocarei neles a culpa. É mais fácil assim do que ter que admitir que a insônia voltou. Do que te explicar porque é que ando triste, quando nem eu mesma sou capaz de dizer.
Prefiro continuar com a janela do quarto fechada, com a casa limpa, com a noite lá fora implorando para que eu a olhe, com a lua pedindo para que eu fique na janela até às 3h e veja como ela está grande nesta noite no meio da semana, no começo do último mês do ano.
Ele falou comigo, há pouco, pela webcam. Pediu se eu estava vendo-o fazendo compressa no ombro dolorido. Disse que as radioterapias estão no fim. Pediu se já me acostumei a morar sozinha. Terminou dizendo que sente saudade e que quase não me reconhecia de cabelo preso.
Dói muito, amor, vou te dizer assim, nessa carta que não está no papel, mas que chega até você. Dói por ele, por mim, por você e por todas essas mágoas que eu não conto nos dedos que é para não me decepcionar ainda mais. Comigo mesma. Dói pelo sorriso que demorou para aparecer hoje. E pelas nossas brigas. Você não vê, mas dói cada vez que eu te magoo. Por você e por mim. E uma vez mais por você. E pela carta que não te envio. E pelos dias quentes que eu soluço com as cervejas, quando volto do mercado.
Me desculpa pelas cervejas e pelas desculpas. Porque, afinal, elas se acumulam. As duas. Na geladeira, no peito, no sangue, nas noites em que eu prometo chegar cedo e chego tarde. Nas noites em que você me acorda, ingenuamente, e eu te peço para me deixar dormir. No banho de chuva que eu não tomei. Porque não choveu. Nesse amor tão bonito que eu não quero correr o risco de estragar.