quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eco

A insônia vem vestida de branco, tosse forçadamente para que eu perceba a sua presença. Lava a louça, murmura uma canção nostálgica, faz massagem no meu cabelo, diz que hoje não tem lua, nem ontem, nem há duas ou três semanas. Me serve outro copo de chá gelado, me faz preencher mais uma página da agenda amarela, me imita dançando em cima do tapete preto. É tão delicada que não ouso ficar irritada, que não peço para parar, que não digo que dessa vez ela deve ir embora.
Deixo que pinte os meus olhos de preto, que suje o espelho, que pise com os seus pés sujos no lençol limpo. Que fale e fale e, quando cansar, fale novamente. Que escreva na parede as poesias que eu não escrevo, assim, quase que sem ponto final. Porque ela nunca termina. Nunca termina a estrofe. Nunca se termina em mim. Deixo que me arranque os motivos, mesmo que eu permaneça calada. Deixo que me arranque as possibilidades de pesadelo. Que me arranque as possibilidades de realidade.