quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Dia 17

A loucura entrou pela porta da frente, desta vez de um ônibus, pouco tempo depois de eu ter mencionado a lucidez. Veio com uma coroa prateada de plástico, com pedras falsas em várias cores, além de uma túnica branca, até o joelho, com um cinto de metal. Não sei que nome próprio tinha a loucura. Mas a voz era baixa e foi abafada pelo barulho do ônibus, enquanto ninguém prestava atenção nas suas palavras, no seu cabelo branco, nos seus olhos apáticos e nas mãos machucadas que carregavam folhas encadernadas.
Ficou parada dentro do ônibus, em frente à catraca, sem pagar a passagem. Falou sem parar durante cinco minutos. A única frase captada foi 'escrevo livros para executivos e cada um custa R$ 500,00'. Parecia não se importar se a ouviam ou não. Parecia não se importar com os risos e os olhares voltados para a sua roupa, quando desceu do ônibus pela porta da frente e ignorou o sol forte que deixava os fios do seu cabelo ainda mais descoloridos. Desceu e esperou que outro ônibus passasse, que outra vez subisse com a sua coroa de plástico, pronunciasse as mesmas palavras e saísse.