terça-feira, 8 de maio de 2012

Meu coração continua fraquejando, Dolores Haze. Praquejando. Quase como se todas as manhãs caminhasse lentamente, e com o corpo dolorido, até a beira do mar e sentisse o repuxo. Mas meu coração continua, pequena Lolita, borrado de batom vermelho, com cheiro de sono, com excesso de insônia, com pesadelos reais de todas as personalidades que lutam pela sobrevivência. E lá está ele, andando sobre a corda bamba, não se importado com o precipício, tão senhor de si e de mim que ouço o eco do seu silêncio abafar todas as possíveis palavras que poderiam ser criadas. E ficam ali, as letras, quase saindo pela boca, pelos olhos, pelos dedos com as unhas roídas, pela respiração ora ofegante ora calma.
Meu coração continua e fraqueja. Ou fraqueja por continuar. E pontua as frases assim, cortando os significados pela metade, alterando sujeito, verbo e predicado, colecionando onomatopéias, metáforas e eufemismos. Meu coração desiste e persiste na desistência. Levanta, veste um suéter, serve-se de tantas xícaras de café que perde a conta e se esconde na escuridão porque lá tem uma lua imaginária que aqui não tem, que ali não pode ter. Mas meu coração continua e nasce e renasce todas as manhãs, desta forma, exatamente, e morre e remorre quando o relógio dourado do quarto marca 4h15min. Anestesia. Anomalia.