Eu pensei que olhar para fora pudesse fazer parar... eu caindo para dentro de mim, sabe? Como se eu fosse me distrair. Como se. Acontece que a solidão me sufoca, me enforca, me faz lembrar que eu existo e que preciso me encarar e me ver e me aceitar ou lutar contra isso.
Todos esses infernos pesam demais, é assim que eu deveria começar a carta que eu não vou te escrever. E pesam tanto que nem levanto da cadeira para pegar mais uma xícara de café, na metade da tarde.
Pensei em fugir, mudar de cidade, depois pensei que não seria suficiente e que precisaria mudar de país. Mas pensei assim: durante uma hora. E sei que já não adiantaria, que a dor interna não some com a mudança de paisagem, que o buraco continua ali, que a letra torta continua aqui, que eu penso mil vezes antes de enviar qualquer coisa. E nunca envio. Porque ainda tenho esperanças, sabe? Essa coisa que eu digo não ter, não precisar. É porque machuca, você sabe. Então penso que o silêncio pode matar. Não eu, entende?, mas o que me mata. E na verdade o silêncio só faz arder o meu eu. Ou o que sobrou dele.
Ainda tenho uns sonhos, ou pesadelos, em que me perco indo para a sua casa, pego o ônibus errado, não chego nunca. E talvez não haja parada final. Ou certa. Me perco no caminho. E fecho os olhos e, quando abro, olho para a lua e afogo a imagem. E me afogo sem saber que não morro, que os infernos continuam queimando e que a carta não é escrita.