Barbas Tortas, 8 de março de 2012
Querida Lissa,
Eu te disse que deveríamos remar juntas, não desistir, mas vejo como eu estava enganada. Meus braços doem, literalmente. Não é algo que fica impregnado nos sonhos acordados de noites insones. Também não sei há quanto tempo eles doem. É por isso que eu tenho pensado em largar os remos na água. Se os largasse, não iria junto para o mar. Estou cansada demais para isso. Quero deitar no chão do barco, fechar os olhos, ouvir a água batendo na parte de fora, de papel, e tentar não enjoar com o balanço abrupto. Juro que pensei em outras possibilidades, mas talvez eu não seja criativa o suficiente. Você sabe que eu tenho tentado. Aliás, nos últimos meses "tentativa" foi o que mais houve, logo para mim que deixava tudo ocorrer sem me importar. Acontece que nem sempre os fatos, os sentimentos e o os mundos, que se instalam no peito, dependem de nós.
Ao mesmo tempo, quando penso em largar os remos, sinto-me egoísta. Não quero te deixar remando sozinha e também não quero que você largue os remos, mesmo que seja para deitar ao meu lado, fechar os olhos e sentir tudo balançando. É por isso que te pergunto o que é que devemos fazer, logo nós que não escolhemos o barco, o mar, as chuvas e as tempestades.
Com carinho,
senhora M. Batata