sábado, 21 de janeiro de 2012


Alternando entre um copo de vinho e outro de cerveja. Tropeçando em cada palavra, perdendo o assunto, falando de um passado que, de tão vivo que foi, hoje virou piada. Andando de jacaré no parquinho, tão tarde que já é cedo, tão cedo que é errado. Nada é nunca, pois o vazio foi saciado e as palavras choradas e o choro corrompido pelo peito tranquilo, pela ausência da ausência.
A canção do silêncio fazendo os corpos dançarem sem parar, sem suar, sem cansar de um cansaço grande demais para continuar. E de tanto dançar a realidade vira sonho que é pesadelo vestido de branco, com lábios fechados, secos, os traços sinalizando, sorrindo, anunciando o acorde do próximo passo não dado.
O que você anda fazendo, correndo na chuva, sem proteção, gritando na rua a visão que você não teve na noite seca, da tempestade encharcada, dois litros de gim, um pote de sorvete vomitado?
O que você anda cantando, sorrindo na madrugada, sem calçado nos pés, silenciando o grito agudo, pensando em um sol que não vai nascer? O que você anda olhando, o vestido molhado, o cabelo desarrumado, os olhos sem tintura há seis meses, as unhas roídas curtas demais?
O que você anda arruinando, um sonho, talvez mais, os pés gelados na cama quente, pensando em finais que nunca serão criados? O que você anda colorindo, o céu cinza de um terça-feira, os olhos lúcidos sabendo de uma maldade pura, um roteiro falido, um conto estragado?

Uma história sobre uma história.