terça-feira, 29 de novembro de 2011

-Qual o seu nome mesmo?
-Thaís - eu disse. Era a segunda vez que eu o ouvia. Sabia que ele gostava de conversar.
-Hm, Thaís, - ele disse pensativo - sabia que existe uma ópera com o teu nome?
-Não.
-É do Massenet. Nunca a ouvi inteira, apenas trechos, mas achei bonita.
-Vou tentar procurar depois. Gosto de música clássica.
-Ah, é? - ele me olhou surpreso, os olhos claros tentando esconder a pele enrugada. Pelo menos cinquenta anos de diferença entre nós. Pensou que talvez eu não fosse tão estúpida quanto parecia.
-Sim.
-Do que você gosta?
-Beethoven, Bach, Arvo Part...
-Nunca ouvi Arvo Part.
-É russo -eu menti, achando que era verdade. Agora que descubro: russo era o maestro que regeu o concerto de julho. Part é da Estônia. Ou era, ao menos.
-Tchaikovsky. Ele é bom também- e olhou pela janela. O sol ia descendo, mas continuava quente. Pediu se eu preferia a janela fechada.
-Tanto faz - dei de ombros. O calor já estava impregnado nas minhas veias, no brilho opaco dos olhos, na testa quente, nas palavras pela metade. Ele parecia não se importar.
-Bem, mas vamos voltar ao assunto anterior. O que era mesmo?