domingo, 21 de agosto de 2011

Tinha cerveja depois do vinho. A mão tentava equilibrar o copo para que o líquido não caísse na roupa. O ônibus continuava a fazer as curvas, de uma maneira tão brusca que chegava a ser bonita. A chuva caía lá fora, e os pingos corriam vidro abaixo, às vezes mudando o fluxo, mas não parando. E a estrada nunca pareceu tão terna, tão acolhedora, tão certa. A mesma música no ipod, sendo repetida não apenas naquela sexta, mas na semana toda. Talvez fossem as olheiras causadas pela insônia que não fora mal recebida. Talvez fosse a procura incessante e a presença que veio quando não havia mais nada a ser esperado.
O rosto estava quente, as mãos com perfume de vinho barato e doce demais. Era para acompanhar a loucura, compreende? Colocando açúcar em tudo, quem sabe a loucura deixaria de ser meia e passasse a ser completa. Podia se disfarçar de lucidez. Não haveria problema algum. O peito, doído pelo coração que batia rápido, por causa do café e do vinho e da cerveja e de tudo, o peito aguentava ainda. E aguentaria muito tempo, essa que é a verdade. E desejava que a chuva nunca parasse de cair. Porque ela ainda salvava e era um “lugar” de encontro.
Não havia ironia, mentira ou exagero nas palavras. Não havia tristeza. Havia apenas os lábios que não conseguiam assumir outra forma, a não ser a de sorriso delicado. E havia os olhos também, lustros, calmos e sentimentais. Poderia haver possibilidades de noites de sexta, e um ônibus que não voltasse balançando, a mão equilibrando o copo de cerveja, o outro copo sujo de vinho na bolsa, manchando novamente a touca branca do panda.

"A cada solavanco eu me levantava, me espreguiçava e meus anseios se confundiam." Kerouac