quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Não teve coral nem música de Bach. Não teve olhos fechados na música de Arvo. Sequer ela foi tocada. Não existiram bailarinas nem mulheres dançando acima da orquestra. Alguns lágrimas forçadas ficaram presas na borda dos olhos. E o sorriso foi tímido e relutante. Sem pessoas conhecidas, loucura ou transparência. O nervosismo corroía, a espera angustiava e a ausência era o eco no teatro. Menos doloroso viver na incerteza do que aceitar a certeza do fim. E fugir das possibilidades ainda é saber que elas estão ali, prestes a se transformarem em realidade ou pó.
Saiu da cadeira estofada, a face tão pálida que indicava um desmaio, e viu os sentimentos transbordarem do copo de cerveja. Sem motivos. E a tentativa de encontrar explicações inexistentes forçou o corpo. E novamente os carros passando na avenida e a música ruim saindo alta demais das caixas de som. Os olhos sedentos, atentos, confusos, em busca de uma presença que não era inventada, escrita ou pintada. Parecia sexta. O vento forte fazia os fios do cabelo dançarem no ar e pousarem desarrumados no ombro cansado.
O extremo da loucura é aceitar a loucura. E acordar mais cedo para dobrar todos os pares de meia na gaveta da cômoda. E aceitar o nervosismo, lidando com ele com uma calma absurda. E sentir cheiro de mar durante o sono. E beijar os próprios lábios e cantar o silêncio e guardar os rascunhos e sorrir a tristeza. Mas não há tristeza. Há apenas a perfeição que se desdobra e caminha com passos leves para não acordar o monstro que dorme abaixo de si.

"Nós três descemos a ladeira lado a lado, caminhando bêbados pela rua de paralelepídeos, gargalhando como homens conscientes de que iriam se separar ao amanhecer e rumar para os cantos mais distantes do planeta." Thompson