domingo, 14 de agosto de 2011

A casa de madeira caindo. Primeiro os pregos foram ficando enferrujados, os cupins tomaram conta das portas e eu sentia medo de dormir na cama de madeira. Depois vieram os estalos do teto que se intensificavam na madrugada. E em um domingo chuvoso, sem que ninguém esperasse, a primeira parede caiu. Não tinha guarda-chuva vermelho nem capa de chuva amarela. A minha camisola branca se encharcou e meu óculos foi ficando embaçado e molhado, fazendo com que eu não visse nada. Nem queria ver. Todos os papéis escritos, em cima da escrivaninha, viraram apenas um borrão. Não tive tempo de fazer a mala, colocar as botas de chuva ou guardar os livros em uma sacola plástica. Apenas fiquei sentada, assistindo os pingos se misturarem com o café na xícara recém comprada, enquanto todas as paredes foram de encontro ao chão, junto com o teto. Não fiquei triste. Não pedi ajuda. Não fui embora. É sempre mais fácil recomeçar do que aguentar a dor.

"Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido." Abreu