Olhou os olhos sem cor, apenas dois pequenos círculos sem graça, e notou a face branca, opaca, com umas sardas tortas querendo aparecer no sol. Era isso que fazia com que a tristeza invadisse as pálpebras e ali permanecesse. Os cabelos, lisos e gelados, não cobriam as orelhas miúdas e brancas. E questionou a sua realidade. E pensou que o menino moreno era mentira e que seu sorriso quase forçado também era invenção. As cores do céu também não tinham verdades, e as palavras, sempre pela metade, não queriam dizer nada, apenas soluçavam que o amor por vezes era sonhado e não havia corpo para ele. Só suspiro, suspiro inventado. Tudo de mentira, pensou. Apenas o pijama gasto deixando o pescoço à mostra. Longo e liso. A pele pura, ali, descoberta. E o frio queimando. Frio queima mais do que fogo. Tudo falso, acumulado dentro do armário de madeira escura que era a única coisa sólida do quarto. Sem passado nem presente nem futuro. Tudo era quase.
Quase um sopro gelado que percorre a nuca e vai devagar para o ouvido. Quase um pedido de clemência, uma voz rouca e baixa falando de cores. Quase um achar esperado, uma calma programada e um alívio soluçado. Quase um sorriso triste, mãos geladas nas cobertas quentes, uma espera que virou contenção e palavras que perderam o rumo.
Quase um desabafo.
Quase vidros estraçalhados.
Quase uma melancolia de sábado.
Quase um olhar calado.
Quase garrafas quebradas.
Quase amor de domingo.
Quase sonhos partidos.
Quase.
Quase um sopro gelado que percorre a nuca e vai devagar para o ouvido. Quase um pedido de clemência, uma voz rouca e baixa falando de cores. Quase um achar esperado, uma calma programada e um alívio soluçado. Quase um sorriso triste, mãos geladas nas cobertas quentes, uma espera que virou contenção e palavras que perderam o rumo.
Quase um desabafo.
Quase vidros estraçalhados.
Quase uma melancolia de sábado.
Quase um olhar calado.
Quase garrafas quebradas.
Quase amor de domingo.
Quase sonhos partidos.
Quase.