sábado, 16 de julho de 2011

Dores acalmadas pelo toque crescente do som do silêncio
São estrelas cadentes inventadas que preenchem os olhos abandonados
E tristezas que se juntam e explodem em estradas escuras
Não dançam nem cantam nem criam amantes carentes

Sorrisos brancos forrados de cetim desbotado pelo sol de inverno
Insistem em viver, apesar da derrota que se faz cheirosa e vertiginosa
Estão nos bancos das praças mal-ilumidadas, no centro das vitórias
Proclamam desejos mortos, choram vidas passadas e caem sem graça

Bares com cheiro de fritura e música alta que fura os tímpanos
Caminho sorrateiramente na cidade grande manchada de naftalina
E a noite se faz doce e depois se mistura com o salgado do mar
Mas não há ondas nem céu, tampouco há o mar que é quase pó




Hoje te vi respirar, um suspiro que quase se transformou em canção e depois em soluço e depois em grito. Te disse que vi uma menina dançando balé, bem acima dos músicos da orquestra e ela estava triste, tão triste. Na música do Bach já não existia bailarina nem rosa nem a tentativa de uma alegria. Era só uma garota com cabelos encaracolados dançando deitada no chão. Ela fazia movimentos bruscos, nem tentava ser delicada. Tinha um vestido esvoaçante e estava em um palco de teatro, também acima dos músicos. Quando ela levantou do chão, uma poça de sangue vermelho escuro se destacou. E ela continuou dançando ao som da música clássica e desenhou, nas paredes brancas imaginárias, frases... desenhou frases com o seu próprio sangue. Paredes altas e secas cobertas por letras doentias. Se quebraram e esfarelaram e caíram como pó de sonho em cima da menina. Depois que ela morreu, veio o circo na continuação da música do Bach. Primeiro a mulher dos elefantes, toda triste com os pés pequenos. Depois a garota palhaça toda triste com a sua inutilidade, chorou lágrimas borradas pela tinta que cobria a face. Quando ela evaporou, veio a trapezista com seu corpo magrinho e voz tão baixa que era tachada de muda. E todas elas se perderam quando a orquestra parou de tocar e as luzes se acenderam e o público bateu palmas sem parar. E eu que nunca quis ser bailarina, nem outro tipo de dançarina, nem menina dos elefantes, nem palhaça nem trapezista. E eu, que nunca quis ser nada, não fico triste. E elas que eram algo sumiram com o vento da noite de quinta, cortaram o céu junto com os aviões que não param um segundo em solo, e agora pertencem a outro dos tantos mundos dentro desse mundo. Hoje eu te vi dormir e depois sonhei com geleiras. Ontem você me viu dormir e não conseguiu pegar no sono.