quarta-feira, 4 de maio de 2011

"(...)mas parece continuar existindo nela, e mais do que nunca,um abismo insondável no qual ele sente medo de cair também." Anne Plantagenet

Tudo o que ela precisava era beber um copo de vodca pura para que pudesse deitar e dormir sem ter sonhos, pesadelos ou desejos. Mas não podia. O líquido não ia descer. Se sentisse o cheiro, em seguida vomitaria, mesmo que o estômago estivesse vazio. Fazia três anos que não virava o copo. A última vez, meia garrafa de vodca, sozinha, antes de uma festa. Ice (três ou dez) para finalizar, escondida no banheiro. Bastou. Da 1h da madrugada até às 5, no canto, vomitando, um casaco emprestado porque estava tremendo, uma garrafa de água para limpar a boca. Meus deus, quanta rebeldia. Sua mãe dizia que era feio uma menina ser assim. Sabia que era. E daí?
Abandonou a rebeldia há seis meses. Sem cabelo vermelho ou discussões para tentar fazer prevalecer a opinião. Cansou das pessoas. Cansou de si mesma. Duas refeições por dia. Nada mais. O cansaço pesando nas costas. A insônia, com toda a sua ironia, protagonizando as noites. Belas noites chuvosas ou nubladas, mesmo sem a lua. Onde diabos ela havia se metido? Um copo de vodca, por favor. Depois uma boa noite de sono. Dormir e não acordar. Dormir e acordar três dias depois. Isso também já fizera. Estômago sensível. Sem pensamento suicida. Uma vida perfeita. Uma mente complexa demais.

-Fique com a sua complexidade. Adeus.