quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ontem ela descobriu um lugar secreto. Fugiu de todos durante a noite e sentou no banco branco que já não pertence mais a praça. Longe das pessoas, ainda escutava os carros passando na avenida principal da cidade. Sentia-se longe, mesmo tudo estando a poucos metros de si.

Tudo: pessoas, maldade, carros, comida, gritos e sorrisos.

Não sabia quanto tempo permaneceria ali. Sequer sabia que horas eram. Deitou no banco estreito, uma árvore enorme acima de sua cabeça, a lua entre os galhos e duas ou três estrelas pendendo no céu. Os aviões passavam pelo horizonte em direção ao aeroporto, pareciam tão lentos, calmos e silenciosos. A música tocava baixa no mp3 porque queria escutar o barulho do vento. Precisava sentir o frio. Precisava das mãos geladas para saber que estava viva. Era essa incoerência que a mantinha. E os aviões pousando. Talvez tenha ficado meia hora deitada no banco. Talvez duas. Por que isso importaria?
Até levantar e ir para o ônibus havia contado sete aviões. Sete. E uma lágrima caiu. Enquanto estava deitada, as lembranças pesavam na mente. Lembrou das tardes quentes em que ficava naquele apartamento no 20° andar. Lembrou que a cada dois minutos passava um avião no céu e ela imaginava a vida de todas aquelas pessoas lá em cima. Lembrou dos pés descalços, da gata preta e do amor. E do amor. Lembrou dos bares e das cervejas que pareciam acabar rápido demais. De certa forma podia reviver isso, ali naquele banco, ao ar livre: um 5° andar do mundo, talvez.

É que, apesar de muita coisa, sempre teve motivo para seguir em frente.
É que, apesar de muita coisa, a lua sempre esteve presente nas noites longas.
É que, apesar de muita coisa, a loucura era ainda tão bonita e a embalava.

Aí ela entrou no ônibus e foi pra casa. A madrugada já era bem real quando deitou na cama e se deu conta de que, pela quarta noite seguida, não ia conseguir dormir. Então chorou. E dormiu.