sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ela tinha covinhas nas bochechas e falava alto. Sua risada soava tão aconchegante que por vezes, em nossas conversas, eu queria tirar um cochilo em cima da mesa do bar. Ela não tinha um vocabulário sofisticado mas esse era seu diferencial: a sinceridade exposta até nas palavras.
Já era bastante velha -no bom sentido- para nunca ter tido um namorado. Mas era aquela repulsa que algumas pessoas têm, o medo inconsciente de quem sabe um erro a mais, um tapa a mais, um constrangimento a mais. E ela teve, teve tudo isso quando conheceu um cara e ele foi o primeiro em tudo, e talvez o primeiro que ela poderia ter gostado, mesmo que fosse de um jeito estranho. É, ela realmente poderia ter gostado dele.
Ele tinha um roteiro de teatro muito bem escrito pela sua mente. Um roteiro que usava com todas as suas supostas ficantes. E mentiu tão bem, enganou tão bem que até mesmo eu acreditei.
Ele manchou a menina e a possibilidade de alguma coisa verdadeira em sua vida. Porque até onde eu sei, tudo pra ele se baseava em supostas mentiras que ele via como oportunidades. Mas nem sempre oportunidades têm apenas uma face.
Ele perdeu. Ela perdeu. Talvez ela tenha se arrependido agora. Mas ele, com certeza, vai se arrepender depois muito mais.

"É que havia um grande erro nele. Tão grande como se a raça humana tivesse errado." Lispector

Eu queria ter falado pra ela algo mais do que 'não se estressa com ele, não vale a pena'. Eu queria ter dito pra ela não desacreditar em tudo, como eu um dia desacreditei, e pensar que todas as pessoas são iguais. Queria ter dito que talvez não venha outro cara com vinho e óleo de massagem, mas com cerveja e sinceridade.