quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pegou suas botas de chuva, seu casaco de veludo, suas palavras machucas e saiu pela porta, deixando-a escancarada. Lá fora chovia e havia grandes poças de água ao longo da rua. Suas meias se encharcaram num segundo e seus cabelos viraram grandes nós impossíveis de se desfazerem. Mas o alívio de poder sair de casa era mais forte do que qualquer preocupação com a aparência; não aguentava mais as reclamações consistentes em fatos pela metade, não aguentava mais seu olhar vago e triste naquele espelho manchado.
Tropeçou e caiu. A vida poderia perder o sentido naquele momento que ela não se importaria. Chovia e fazia frio. Chovia e ela estava inconsciente, mais uma vez dentre todos esses anos. O próximo passo não precisava nem existir, os motivos não eram visíveis e muito menos invisíveis, eles de fato não existiam.

Mas sorria, sorria ali, mesmo sem saber, caída no meio da rua, porque já não sabia se morria ou se continuava a viver.