quarta-feira, 22 de abril de 2009

Brega era não saber o que falava, o que pensava, o
próprio borrão dos seus atos. Brega era vomitar na saída do bar e ainda pisar em cima. Brega era seu sapato alto vermelho e seu colete azul apertado. Não sabia tomar chocolate quente no inverno porque se sujava e não gostava das árvores mortas no outono porque simplesmente eram mortas. Não era ninguém, mas sabia o que havia sido um dia. Não era ninguém e era amargurante ter essa consciência. É muito pior quando se sabe das coisas. E ela sabia, mais do que qualquer outra pessoa. Era nada e se arrependia de um dia ter desejado ardentemente isso. Corria dos ponteiros do relógio porque eles lhe tapavam a mente. Por isso nunca tinha horário pra nada. Ela e a solidão. Ela, a solidão e a vodca. Sentava no bar assim que acordava e passava o dia esperando que algo acontecesse. Nunca acontecia. Mas ela não sentia tristeza, essa não debatia-se mais com tanta força dentro de si. Era nada e que doçura ver a sua imagem emoldurada na parede manchada. Era nada.

-Todos os outros também são.