quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Notes from the couch XXII

Hoje eu te vi no ar que entrou pela fresta da janela nas primeiras horas de manhã. Te vi quando abri os olhos pela primeira vez, na mancha amarela da parede branca. Te vi no vento que entrou quando me sentei para escrever. E te vi no copo de vinho da noite anterior, manchado de batom vermelho. Te vi no sol que bate nos livros. E nos lembretes que fixei na parede dizendo o que preciso fazer até o final do ano. 
Hoje eu te vi no lençol bagunçado, nas cobertas enroladas, nas luzes de natal que eu esqueci ligadas durante a noite. Te vi na foto velha que eu coloquei no porta-retrato novo, na caixa da vitrola sem a vitrola, no livro que eu deixei ao lado da cama quando fui dormir. Te vi na cortina do quarto, longa, branca e cheia de pó. Te vi na música que enche o peito. E no vazio que está na barriga. 
Hoje eu te vi em todos os lugares que você não está. Todos os dias, dos últimos quase seis anos, eu te vi assim.