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Eu continuo nadando dentro de mim. Lutando para que, outra vez, não me afogue. E
nunca alcanço o barco, entende? Toda vez que estou perto, que faço o máximo de
esforço esticando o braço, volta a tempestade. Não sei como ainda continuo
nadando. Nem sempre faz calor.
Silêncio.
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Vês o meu exagero, não é? Pensas que não sei que faço disto mais do que é? Mas
não tenho culpa. Procures compreender. Não tenho qualquer possibilidade de
decisão. Sou guiada por essa maré. Ela sempre me leva para o lado errado. Para
longe do barco.
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Já pensou que talvez gostes de estar quase sempre afogada? Que precisas dessa
melancolia? Que necessitas sofrer, mesmo que digas que não? Sei que não é de
propósito. Mas o que posso fazer?
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Faça-me livre. Não posso nadar com alguém que, além de se prender aos meus pés,
ainda prende uma série de conceitos. Tampouco posso viver neste mundo que
queres, nesse mundo que enches de enfeites, de princípios. Há algo em mim que não
suporta isso.
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Queres se ver livre de mim?
-Não.
Apenas peço que nades ao meu lado.