
Eu quis usar pseudônimos e usei. E usei a chuva para disfarçar as tristezas e os barcos para afogar as certezas. E caminhei sem botas às 2h da manhã de um mês quente, sempre esquecendo que novembro é o mês mais doce e mais quente de todos, que engoliu outubro e setembro e o cansativo agosto. É isto que sobra no meu estômago depois de todo esse tempo, que mesmo tendo parecido pouco, foi mais do que alguém poderia colocar em uma partitura e tocar ou cantar. Sobram os contos que eu prometi escrever e não o fiz, as músicas repetitivas e o sol que nasce no final de um dia cinza. Sobra a loucura desgastante que eu abandonei naquela esquina sem bar, mas que não me abandonou. Porque a cada passo apressado para pegar o ônibus está o desconforto de carregá-la na bolsa, no peito, nas mãos, cuidando para que não caia e fique em mil pedaços, e me deixe em outros mil cacos, pois a linha que nos separava foi a mesma linha que nos uniu.
Eu quis usar essas desculpas, essas que são resultantes da loucura, do abismo, e do meu repertório de palavras já bem enjoativo. Eu quis usá-las na tentativa de me livrar de mim. Ou disso que digo que faz parte de mim, que se instalou na alma, nos corredores vazios dessa espera. Eu quis escorrer para baixo de mim mesma, e só sair quando o frio surgisse, quando a neve caísse, quando todos os pesadelos fossem desmoralizados pela coleção de substantivos e nomes. Mas não consegui. E deste quase fracasso surgiu a tentativa de escorrer para cima, e sempre para cima, esperando uma chuva que não cai, em uma sexta-feira que não passa, de um mês que quase suprime o calendário, que quase suprime as vidas criadas. Mas nunca suprime.