quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Retiro Cortázar da estante, deixo-o em cima das pernas nuas, olho o corte de quase dez centímetros perto do tornozelo e penso ‘quando’?. A noite de cinco horas se estende à minha frente. Parece que vivo só de madrugada, quando o silêncio canta, quando a escuridão apaga as histórias reais e desenha pesadelos. Quero reler todos os contos de Cortázar, quero matar a minha noite de sono assim: como se não houvesse um amanhã, como se não precisasse lutar para abrir os olhos às 7 da manhã, como se. No fundo, acho que todo dia tem sido assim, matando as noites, os dias, a realidade. Sou uma assassina quase perfeita. Acontece que eu só seria perfeita se tudo isso não fizesse parte de mim. Aprendi com Cortázar essa coisa de inventar um fim trágico para os personagens, mas não aprendi como me salvar.