quarta-feira, 3 de março de 2010


"Se eu tivesse que me esforçar para te escrever ia ficar tão triste." Lispector

Ela era a minha menina. Tantas vezes eu tive vontade de pegá-la no colo e fazê-la dormir e dizer pra ela não usar lápis porque ficava vulgar. E as suas bochechas tão rosadas dignas de uma mordida. Foi, agora, a minha maior decepção. Não que ela tenha culpa, a culpada sou eu. Expectativas demasiadas em cima de uma sólida amizade. Mas dela eu jamais esperei isolamento depois que ela encontrasse o amor.
A minha arquiteta de óculos rosa agora não é mais minha. E já não temos mais a intimidade de conversar e chorar e de eu tirar o casaco e emprestar pra ela quando a noite se fizer fria.
Morre alguma coisa em três meses em que o contato é escasso e não se tem acesso ao brilho dos olhos. Talvez essa tenha sido a coisa que mais doeu em mim.
Nossos sonhos borrados com têmpera numa folha peso 60 se foram.
Nossos melhores dias com o céu azul e sem nuvens também se foram.
Há uma melancolia e um fio de distanciamento que nos separa. E mesmo que os finais de semana se moldem para fazer reviver a minha menina, vai faltar, vai faltar a cor que sempre foi crucial.
Da menina eu tenho os seus desenhos no meu mural e a música que ouvíamos juntas no mp3.
Dói, mas o que eu posso fazer? Perdi-a pra um amor, talvez um amor maior ou um amor que se diz maior.
Mas em mim ela sempre vai estar, talvez não intensamente como antes, mas lá, lá no fundo.